“Construção de dois mundos separados – quotidiano e comunicação jornalística e partidária – é um perigo para a democracia”, afirma Gustavo Cardoso

O investigador especialista em sociologia dos média, Gustavo Cardoso, alerta para as consequências do afastamento dos cidadãos das notícias e para os riscos que esta situação comporta para a democracia. No entender do professor catedrático do ISCTE – IUL, Instituto Universitário de Lisboa, “o real perigo para a democracia é a construção de dois mundos separados: o quotidiano real e a comunicação jornalística e partidária”. As declarações foram proferidas durante o programa “Antena Aberta”, que foi para o ar 23 de maio, na Antena 1, dias após a audição, em Comissão Parlamentar de Inquérito, do ministro das Infraestruturas, João Galamba, que protagonizou um conflito com o seu adjunto por causa da recuperação de um computador com informação confidencial.

Por um lado, Gustavo Cardoso constata o desinteresse dos cidadãos para com as notícias políticas, e, por outro lado, defende que a informação está a converter-se à narrativa típica da novela. “Temos um mundo em que as pessoas se desligam das notícias” e em simultâneo “cada vez mais as notícias estão a transformar-se no formato narrativo das novelas”, descreve.

E porquê é que isto acontece? Como não temos factos suficientes, são criadas histórias paralelas a partir das opiniões e toda a gente tem uma opinião sobre alguma coisa, responde, remetendo-se, sobretudo, para a programação noticiosa em contínuo dos canais televisivos. “Não é difícil ter uma emissão de 24 horas com opiniões permanentemente e com múltiplas opiniões”, afirma.

Sobre se a crise política do momento é real artificial, Gustavo Cardoso evocou o passado e os múltiplos casos polémicos que marcaram outras legislaturas. “Se introduzirmos a dimensão histórica”, e deu então alguns exemplos, como é o caso do “país de tanga”, do tempo de Durão Barroso, verifica-se que o contexto político não tem nada de diferente, considera. “O que há de diferente é o contexto comunicacional, e a forma como está a ser desenvolvido”. E nem sequer é culpa dos jornalistas, diz. “Tem a ver com o conjunto das situações sociais e económicas que acabam por condicionar estas formas de comunicação”.

Otros artículos

‘Let’s get down to the facts’ is broadcast on Fridays on the Portuguese radio station TSF

On Fridays at 9.30am and 4pm, TSF radio broadcasts the programme ‘Vamos aos factos’ (Let's get down to the facts), which analyses content suspected of including disinformation and deals with a particular case about...

Special issue of “Communication & Society” for scientific papers that explore network moderation models

The journal "Communication & Society" will launch a special issue entitled "From Fact-Checking to Community Notes". The submission deadline is 30 October. This is the submission platform. The guest editors are: Ramón Salaverría, University...

The dehumanisation of others is one of the techniques used in disinformative content

Researchers from MediaLab, ISCTE-IUL's Media Laboratory, have analysed in an opinion article the main techniques being used by disinformation creators. In an article in the portugueses Público newspaper, Gustavo Cardoso and José Moreno point...

IBERIFIER and the Government of Navarra plan to promote media literacy in Navarra

As part of its commitment to combating disinformation, the Government of Navarra is exploring new avenues for cooperation with the IBERIFIER project to strengthen media literacy in the Autonomous Community. This initiative seeks to...

Conference in Lisbon: Freedom of speech and disinformation analysed by experts

More than 70 people attended in person at the ISCTE facilities in Lisbon to take part in the IBERIFIER conference on Freedom of Expression and Disinformation, held on 27 March. The panels discussed a...