Literacia sem receita e um futuro em que teremos de conviver com muita falsidade

O segundo encontro nacional da Associação Literacia para os Média e Jornalismo, ALMJ, permitiu conhecer o que tem sido o projeto no terreno, nas escolas, onde as crianças desenvolveram oficinas contra a desinformação, criaram rádios e jornais online e em papel indo ao encontro dos seus interesses. No encontro que se realizou dia 12 de outubro em Coimbra, na escola Secundária Quinta das Flores, Vítor Tomé, um dos formadores de professores, esclareceu que foi regra não sugerir receitas de trabalho aos docentes, para que cada um descobrisse as estratégias que melhor se adequavam à sua comunidade escolar. Daniel Catalão, outros dos participantes do encontro, deixou alertas sobre a presença da falsidade em diferentes domínios. Lembrou que “muito do que vemos hoje no cinema é falso”.

Daniel Catalão começou por mostrar aos presentes vários vídeos do Tik Tok protagonizados por Tom Cruise em situações do quotidiano, a tocar guitarra, e fazer números de magia, a gozar com atores na passadeira vermelha. Interrogou a audiência e explicou a seguir que se tratava de material manipulado, “deep fake”. “Temos de aprender a desconfiar dos vídeos”, sublinhou. As tecnologias do vídeo sintético e dos sintetizadores de voz estão a tornar-se cada vez mais acessíveis, disse, e essa banalização vai trazer novos problemas também ao jornalismo.

Vítor Tomé, um dos formadores dos docentes, membro da equipa IBERIFIER, fez uma síntese do que tem sido a atividade da ALMJ: 160 jornalistas formados, 20 cursos de formação, mais de 300 professores preparados para criar iniciativas nas escolas e mais de 100 projetos escolares planeados e desenvolvidos. O conceito desta proposta de ação é triangular: dar formação aos jornalistas para estes colaborarem na preparação de professores e depois puderem acompanhar a criação pelos alunos de atividades escolares na área da literacia e da desinformação. Neste segundo encontro foram apresentados alguns modelos desenvolvidos: “Academia Cidadania Digital”, em Caneças, “Salto do Gafanhoto” e “Solta a Voz no AEGN”, em Gafanha da Nazaré, ou a oficina “Detetar e Combater a desinformação”, em S. Maria, Açores, entre outros.

Vítor Tomé, que participa na formação desde o início do projeto em 2017, declarou que é claro que “há interesse da parte dos professores em frequentar a formação em literacia dos media”. Salientou ainda a importância do envolvimento das direções das escolas. “Se as direções não estão envolvidas nos projetos, os projetos morrem”, afirmou. “Outro dos princípios fundamentais (para o êxito) é a partilha e a interajuda”.

A iniciativa da ALMJ foi recentemente mencionada num relatório da Nato sobre Literacia dos Média, referiu Vítor Tomé. O segundo encontro Nacional da Literacia para os Media e Jornalismo contou ainda com a participação do investigador António Lopez que fez uma apresentação sobre a desinformação na área das alterações climáticas; e as presenças de José Carlos de Sousa, diretor de Serviços de Projetos Educativos da Direção-Geral da Educação, Luís Filipe Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas, e Sofia Branco, fundadora da ALMJ, a quem coube fechar a sessão.

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