Literacia para os Media em Portugal: discutir a designação e descrever as diversas iniciativas

Uma reflexão sobre o conceito de “Literacia para os Media” é a proposta do relatório “Literacia para os media, horizontes conceptuais e mapeamento de atores e iniciativas em Portugal e no mundo”. Elaborado por investigadores do Observatório de Comunicação, OberCom, em parceria com o Observatório Ibérico de Media Digitais e Desinformação, IBERIFIER, o relatório também apresenta e caracteriza os atores, as iniciativas, os recursos e os projetos de investigação que têm vindo a ser desenvolvidos em Portugal.

A publicação do relatório antecede o VI Congresso Literacia, Media e Cidadania – Transição Digital e Políticas Públicas, organizado pelo Grupo Informal de Literacia Mediática, que se realiza a 21 e 22 de abril na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa. A equipa que realizou o estudo estará representada no encontro.

Na primeira parte, o relatório sistematiza e problematiza as abordagens ao conceito de literacia: um estudo internacional de 2022, que analisou 400 artigos, identificou 258 definições. Reconhecendo a disparidade de teorizações – em Portugal são usados conceitos como Literacia Mediática, Literacia e Media, Educação para os Media a proposta dos investigadores assenta no termo “Literacia para os Media”.


O conceito proposto vai além da observação crítica dos conteúdos mediáticos. Compreende a análise e compreensão dos processos de construção dos media e dos produtos em si. Em termos pedagógicos, a linha teórica justifica o exercício sobre habilidades específicas e a promoção de atitudes, tendo em vista o apoio ao cidadão na sua inter-relação com os media.

A revisão da literatura à volta do conceito aponta também abordagens inovadoras, de que é exemplo a transliteracia, conceito que resulta da interação das literacias dos media, da informação e dos dados. Tendo por base esta conceção, impõe-se um modelo de aprendizagem transversal e transdisciplinar, que conjugue contextos formais e informais, físicos e digitais, a partir de usos sociais e pedagógicos.


Na segunda parte do relatório, os investigadores identificam mais de três dezenas de iniciativas na área da Literacia para os Media em Portugal. Duas dezenas de entidades estão a promover direta ou indiretamente a Literacia para os Media, explorando múltiplas facetas dentro da literacia, e uma dezena de projetos de investigação pesquisa ângulos e modelos de atuação originais. As experiências têm alcançado públicos igualmente díspares: das crianças do pré-escolar à população sénior.

Por exemplo, o projeto de investigação On & OFF – Atmospheres of Disconnection, desenvolvido pela Universidade Lusófona, está a explorar, recorrendo a uma pesquisa etnográfica, o campo da desconexão digital. O IBERIFIER criou manuais de literacia para formadores e formandos, que têm servido de base aos workshops de “Literacia Digital em ação contra a
desinfomedia”, ministrados a jornalistas, e entre as suas linhas de pesquisa está o impacto da desinformação. O Media Trust Lab, implementado pelo LabCom Comunicação e Artes, que junta a Universidade da Beira Interior e a Universidade de Coimbra, estuda a desinformação em contextos de proximidade.


Entre os agentes que têm promovido Literacia para os Media em Portugal, destaque-se a Direção-Geral da Educação (DGE), nomeadamente através da Direção de Serviços de Projetos Educativos, DSPE e a Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas, ERTE. Depende da DGE a realização dos Encontros Nacionais de Educação para os Media, o concurso Media@ção e o projeto “Academia Digital para pais”. A Rede de Bibliotecas Escolares tem levado a cabo múltiplas ações dirigidas ao ensino pré-escolar e básico.

No que se refere a atuação junto de diferentes públicos, a Associação Literacia para os Media e Jornalismo, ALPMJ, deu mais um passo no último ano. O organismo, que começou por formar jornalistas, que pudessem formar professores e em parceria desenvolver atividades de literacia nas escolas, começou, em 2022, a fornecer workshops a maiores de 65 anos. Para os mais pequenos, a Rádio Miúdos, uma estação produzida em colaboração com crianças que transmite 24 horas por dia, sete dias por semana, dinamiza diversas atividades de Literacia para os Media.


No campo das formações, o Observatório de Cibersegurança oferece quatro cursos: cidadão ciberinformado, cidadão ciberseguro, Cidadão Cibersocial e Consumidor seguro.


Alguns meios de comunicação social criaram projetos de literacia para crianças e jovens. O Público na Escola ou a iniciativa True, realizada em parceria com a Universidade de Aveiro, que procuram servir de apoio à produção de jornais escolares, são disso exemplo. Os webinares da Visão Júnior permitem às crianças experimentar fazer jornalismo; o Expressinho tem aberto a porta à participação dos miúdos; e o MedialLab, associado do Jornal de Notícias e Diário de Notícias, promove workshops sobre pesquisa, produção e combate à desinformação para grupos do pré-escolar ao final do secundário. A Agência Lusa criou a página “Combate às Fake News”.


O relatório inclui ainda experiências desenvolvidas em outros países. O Centre de Liaison de l’Enseignement et des Médias d’Information, a agência governamental do Ministério da Educação francês, por exemplo, organiza um concurso que coloca jovens a participar numa investigação jornalística. Os alunos têm de analisar diversos recursos pré-selecionados de modo a
produzirem conteúdo jornalístico. No final do jogo, os alunos compararam o seu trabalho com o de uma jornalista profissional francesa. O objetivo é que percebam os métodos de produção do trabalho jornalístico.

Consulte ou descarregue o relatório aqui.  https://obercom.pt/wp-content/uploads/2023/04/Literacias_Final_17Abril.pdf

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