O trabalho de monitorização realizado pelos investigadores MediaLab, do ISCTE – IUL, acerca dos conteúdos políticos e da desinformação disseminados durante a campanha para as Eleições Legislativas de março2024 detectou anúncios pagos irregulares publicados nas plataformas Facebook e Youtube que denegriam a imagem de políticos do PS e PSD. Uma das mensagens, exibida através do Youtube, mostrava primeiras páginas de jornais de forma descontextualizada, associando o atual e antigos líderes do Partido Socialista à corrupção. O nome do canal que exibia o vídeo designava-se de “Bolsonaristas em Portugal”. Este projeto de investigação foi desenvolvido entre 1 de fevereiro e 6 de março.
Uma segunda publicidade política identificada no YouTube foi um anúncio com um nível de produção mais elevado e que criticava o PSD. O nome do canal que albergava o vídeo era “Jovens por Portugal”. Estas conclusões constam do relatório “Legislativas 2024, Amplificação do discurso político online e desinformação”, disponível em “resultados”, no site IBERIFIER.
A terceira publicidade irregular foi identificada no Facebook, na forma de publicações patrocinadas da página “Notícias Internacionais”. Estas publicações tinham como alvo Luís Montenegro, líder do PSD, e Pedro Passos Coelho, antigo líder do PSD dos tempos da intervenção da Troika em Portugal.
No total, os posts alcançaram cerca de 2 milhões de contas, sendo que apenas uma das publicações alcançou mais de um milhão de contas. Estima-se valor investido nesta operação de publicidade ilegal tenha sido de 12 mil euros em três dias. Os anunciantes poderão ter alcançado cerca de 22% do eleitorado português em pleno período de campanha eleitoral.
Este acompanhamento dos conteúdos políticos e da desinformação presente nas redes no período que antecedeu as eleições permitiu ainda concluir:
- 1. Facebook deixou de ser a rede social predominante para a divulgação de conteúdos políticos. Ganhou sobretudo relevância o Instagram;
- 2. O Facebook e X continuam a ser as redes mais usadas pelos atores políticos, mas o Instagram é a rede que lhes dá mais alcance e impacto;
- 3. O TikTok ainda é pouco usado pelos atores políticos, mas denota um potencial de alcance e impacto que poderá fazer prever uma utilização intensiva no futuro;
- 4. Apesar de o Twitter/X ser a rede social com maior penetração de temas políticos, e aquela que é mais frequentada por políticos e interessados em política, revela ter pouco alcance e impacto fora dessa “bolha mediática e política”;
- 5. São os próprios agentes políticos a amplificar as mensagens que lhes convém, mesmo nos casos em que as mensagens podem ser desinformativas. Depende destes, portanto, o ganho de relevância dessas mensagens;
- 6. O partido Chega e o seu líder conseguiram mobilizar as redes sociais para propagar a sua mensagem, revelando uma taxa de interação com os utilizadores e a interação média dos “posts” superiores às da concorrência;
- 7. Os conteúdos políticos estão longe de ser os conteúdos preferidos dos utilizadores das redes sociais, tendo em conta a atenção que lhes prestam;
- 8. São os conteúdos relativos aos políticos que escapam aos canais (e formatos) tradicionais que melhor resultam nessa captação da atenção nas redes sociais, nomeadamente as entrevistas lúdicas ou os conteúdos humorísticos.
- Esta pesquisa foi coordenada por Gustavo Cardoso, professor catedrático do ISCTE – IUL, e responsável pelo IBERIFIER em Portugal, e elaborada pelos investigadores do MediaLab, Centro de Investigação e Estudos em Sociologia, CIES. O trabalho contou ainda com uma parceria com a Agência Lusa e com o Observatório da Comunicação, Obercom.
Algumas notícias entretanto publicadas: Interferência externa; O que diz a Comissão Nacional de Eleições; Comentário de Gustavo Cardoso.