A plataforma Polígrafo convida jovens entre os 15 e os 22 anos a fazer verificação de peças que estejam a ser difundidas pelas redes sociais mais frequentadas. “Geração V”, o título da iniciativa, pretende captar curiosos pelo “fact checking” em todo o território nacional e transformá-los em autores de desmentidos. Os participantes serão selecionados com o apoio de várias investigações de ensino superior, escolas e associações. As peças serão publicadas numa seção autónoma do site. A experiência com as primeiras publicações arranca na próxima semana, 9 de janeiro.

O objetivo é duplo. Por um lado, atrair os jovens para o universo da verificação de factos; por outro lado, promover a literacia para os média, explica Fernando Esteves, diretor do Polígrafo. Os temas prioritários são: educação, ambiente, saúde mental e as questões relacionadas com a identidade de género. Os participantes recebem informação para o efeito e serão coordenados por uma jornalista sénior.

“O Geração V” está a ser desenvolvido em parceria com a Fundação Porticus, que, em Espanha, também apoia um projeto da “Maldita.es”. A Worten também se associou à ideia, através da oferta de vales de compras aos participantes.

O Polígrafo e a Maldita são duas plataformas de verificação parceiras do IBERIFIER.

O responsável pelo IBERIFIER em Portugal, Gustavo Cardoso, assinalou, no programa sobre “fake news”, difundido pela Plataforma ECO, uma mudança no processo de certificação da informação. “Estamos à procura de encontrar instituições que substituam as que validavam a informação ‘a priori’ (no século XX). Hoje a validação da informação é maioritariamente feita ‘a posterior’, seja pelos motores de busca, as próprias redes, os ‘fact checkers’, que estão em construção” , referiu no programa “Combate às ‘fake news’ num contexto de crescimento de informação online”, transmitido dia 20 de dezembro, pela publicação ECO. https://eco.sapo.pt/2023/12/20/a-desinformacao-vai-aumentar-ha-uma-polarizacao-brutal-nas-proximas-eleicoes/?utm_source=e-goi&utm_medium=email

Fernando Esteves, diretor do Polígrafo, plataforma de verificação de informação, e outro dos convidados, considera que se tem assistido, nos últimos anos, a uma revolução no campo da verificação. Considera que os protagonistas políticos perceberam que estão a ser monitorizados e avaliados quando fazem os seus discursos. Ana Rocha Paiva, do departamento da Inovação da Google, põe a tónica no papel de todos na mitificação da informação. Está convencida que só em parceria se pode refrear o fenómeno.

Gustavo Cardoso, professor catedrático do ISCTE – IUL, enquadrou o conceito. Prefere o termo desinformação por captar melhor a complexidade da realidade da informação incorreta, enganosa, manipulada. Não gosta da expressão “fake news”, sublinhou. “As notícias são precisamente o que nos permite comparar o que é autêntico com o que é falso”.

Vítor Tomé, perito internacional em Educação para a Cidadania Digital do Conselho Digital, e membro da equipa IBERIFIER, explicou em entrevista ao jornal Público os resultados da experiência de literacia mediática desenvolvida por si numa escola em Caneças, Odivelas. “As crianças perceberam como é que os media funcionam e como é que podem usá-los para intervir”, disse. O artigo foi publicado a 4 de dezembro. https://www.publico.pt/publico-na-escola/artigo/nao-conseguimos-distinguir-noticia-publicidade-mascara-2072522

A propósito da importância de jornais escolares, Vítor Tomé (foto de Daniel Rocha/Público) deu um exemplo concreto. “Em Caneças, uma das coisas que fizemos foi estudar segurança rodoviária. E, depois, os alunos saíram da escola com o professor e vieram cá para fora ver se aquilo que tinham estudado existia. Quando perceberam que não, fizeram uma maquete, explicaram onde é que devia haver passadeiras, semáforos, bancos. Chamaram o presidente da junta, escreveram uma carta ao presidente da câmara, enviaram cópia da maquete, colocaram o vídeo online, e explicaram que queriam aquilo arranjado”.

Vítor Tomé faz também um balanço positivo sobre o que tem sido a introdução da literacia mediática das escolas, embora reconheça que há ainda muito por fazer. “Do ponto de vista legislativo, estamos bem. Temos uma política que defende a literacia mediática”, afirmou. “Podia ser mais forte nas escolas, podia ter uma disciplina específica, mas a verdade é que está nas nossas escolas. Do ponto de vista político, penso que estamos a trilhar caminho. Está em curso o Plano Nacional de Literacia Mediática”. No terreno, porém, “precisamos de aumentar os níveis de literacia mediática dos cidadãos”.

Las 35 organizaciones que forman parte de la red de fact-checking de EDMO han publicado un total de 1.576 verificaciones en octubre de 2023. A continuación se detallan los aspectos más relevantes:

O investigador Vítor Tomé lecionou uma formação a jornalistas em Rabat, Marrocos, no dia 21 de novembro. O perito em literacia e membro da equipa IBERIFIER, que foi convidado para promover estas sessões através do pelo Conselho da Europa, sensibilizou jornalistas sobre o seu papel privilegiado no combate contra os perigos da comunicação online, nomeadamente, sobre violência e assédio online, e, em simultâneo, alertou para os malefícios da desinformação e as vantagens da informação de qualidade. “Apresentei a desinformação como um risco e a informação como uma oportunidade”. A iniciativa teve cobertura local. https://www.danapress.ma/2023/11/23/%d9%85%d8%ac%d9%84%d8%b3-%d8%a3%d9%88%d8%b1%d9%88%d8%a8%d8%a7-%d9%88%d8%a7%d9%84%d9%85%d8%b1%d9%83%d8%b2-%d8%a7%d9%84%d9%85%d8%ba%d8%b1%d8%a8%d9%8a-%d9%84%d9%84%d8%a3%d8%a8%d8%ad%d8%a7%d8%ab-cmrpi/

Vítor Tomé apresentou ainda os moldes de funcionamento da Associação de Literacia para os Média e Jornalismo, ALPMJ, pioneira na formação especializada em literacia para diferentes grupos de cidadãos, de jornalistas a reformados. “Foi uma oportunidade para debater o contexto local com jornalistas marroquinos e perceber que tipo de projeto pode ser iniciado naquele país, na senda do que já temos, em Portugal, quer seja o desenvolvido pela ALPMJ, quer no que tem sido desenvolvido pelo Observatório IBERIFIER”.

Esta foi a primeira investida destinada a jornalistas naquele território apoiada pelo Conselho da Europa. https://www.coe.int/fr/web/rabat/-/renforcement-de-capacit%C3%A9s-des-journalistes-et-m%C3%A9dias-et-sensibilisation-%C3%A0-la-cyberviolence-et-au-cyberharc%C3%A8lement-%C3%A0-l-encontre-des-enfants-et-des-jeunes-au-maroc. Primeiro, realizaram-se formações envolvendo professores e pais. Foram estas que abriram o caminho.

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Gustavo Cardoso explicou no podcast promovido pela Revista Visão porque é tão difícil regular as redes sociais. Desde logo, explicou o professor catedrático do ISCTE – IUL, coordenador do projeto IBERIFIER em Portugal, porque não nos podemos esquecer que todas as redes sociais são um negócio e o seu objetivo é sempre o lucro. Ora se nem tudo o que viral é aceitável, há tendência para que os assuntos que provocam discordância serem mais partilhados, e gerarem mais vantagem financeira, explicou. A própria natureza do meio dificulta a atuação junto das empresas.

A reflexão particular sobre as redes sociais, divulgada em emissão de 10 de novembro, está disponível aqui, a partir do minuto 31: https://visao.pt/atualidade/politica/irrevogavel/2023-11-10-na-guerra-nao-ha-santos-o-ocidente-tambem-faz-propaganda-diz-gustavo-leitao-cardoso/. Gustavo Cardoso destaca, entre outras ideias, que as redes sociais têm um lado benéfico que é mostrar-nos o que a sociedade tem. “É preferível conhecer o que existe”.

Na primeira parte do programa, conduzido pelo jornalista da Visão João Amaral Santos, o sociólogo e especialista em comunicação analisou a propaganda que está a ser difundida acerca dos conflitos bélicos Ucrânia e Rússia, e Israel e Hamas. “A propaganda mantém os mesmos graus de eficiência, mudou foi a forma como funciona”, disse. Na atualidade, a informação chega às pessoas sem a intermediação jornalística, chega diretamente, pelo que nem conhece filtros. E “às vezes ver para crer não chega, pois circula muito conteúdo manipulado”.

A pesquisa “Aspetos jurídicos e políticos da desinformação em Portugal e Espanha” analisou seis casos da história recente de Portugal e Espanha onde a desinformação assumiu grandes proporções. Um deles, a guerra da Ucrânia, mereceu da parte do verificador português Polígrafo 12 desmentidos por semana. Os investigadores do IBERIFIER debruçaram-se ainda sobre: inflação, eleições, nacionais e locais, campanhas, imigração. O relatório do IBERIFIER reúne estudos portugueses e espanhóis.

Uma das conclusões do estudo ibérico é que há diferenças entre Portugal e Espanha nos temas escolhidos para as narrativas desinformativas. As conclusões do relatório lançado sexta-feira, 20 de outubro, podem ser lidas aqui.